Quando falamos de uma química entre duas pessoas, geralmente nos referimos àquela conexão inexplicável que sentimos ao conhecer alguém. Mas e se disséssemos que essa “química” é literal? Que seu nariz, silencioso, mas poderoso, avalia os candidatos antes mesmo que sua mente consciente perceba. Bem-vindo ao fascinante mundo do olfato e da genética na escolha de um parceiro.

Cheirar muito além do perfume

Além do desodorante, colônia ou sabonete que usamos, cada pessoa emite um odor corporal único e intransferível. Esse aroma pessoal é influenciado por um conjunto de genes chamado Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC), que regula nosso sistema imunológico.

Numerosos estudos demonstraram que tanto animais quanto humanos podem detectar inconscientemente essa “impressão digital genética” por meio do olfato. E aqui está a parte mais interessante: temos a tendência de nos sentir mais atraídos por pessoas que têm um MHC diferente do nosso. Por quê? Porque a mistura de genes diferentes produz descendentes com um sistema imunológico mais diverso e forte. A biologia pensa no futuro!

O experimento das camisetas suadas

Uma das investigações mais famosas sobre esse fenômeno foi conduzida pelo zoólogo Claus Wedekind. O experimento foi simples, mas revelador: homens usaram camisetas de algodão por duas noites (evitando desodorante, álcool ou alimentos intensos) e, em seguida, as mulheres avaliaram a atratividade dessas camisetas apenas pelo cheiro.

Qual o resultado? A maioria das mulheres preferia o cheiro de camisetas usadas por homens com um MHC diferente do seu. Sem que soubessem, estavam escolhendo parceiros com os quais teriam filhos geneticamente mais resistentes a doenças. A evolução brincando de cupido.

E se a química se alterar?

Curiosamente, esse instinto pode ser alterado. Por exemplo, mulheres que tomaram anticoncepcionais orais durante os estudos tenderam a preferir os cheiros de homens geneticamente mais semelhantes. Isso pode ocorrer porque a pílula simula um estado de gravidez, no qual, biologicamente, a proximidade (como a família) é priorizada em vez da busca por um parceiro geneticamente diverso.

Isso levanta questões profundas sobre como certos hábitos podem influenciar, mesmo sem que saibamos, as nossas decisões emocionais.

Por que isso tem importância?

Escolher um parceiro não é apenas uma questão emocional ou cultural. A biologia tem muito a dizer. Estudos indicam que casais com genes MHC muito semelhantes têm mais dificuldade para engravidar, maior risco de aborto espontâneo e menores taxas de sucesso com fertilização assistida.

Além disso, algumas pesquisas sugerem que a similaridade genética pode até influenciar a satisfação e a fidelidade no relacionamento. Por exemplo, em pássaros e outros animais, observou-se que fêmeas com parceiros geneticamente semelhantes tendem a procurar parceiros com mais frequência. Será que nosso nariz também nos diz sobre estabilidade emocional?

O perfume como uma declaração genética

E para fechar esse círculo mágico entre aroma e genética, um fato curioso: quando escolhemos um perfume que amamos e sentimos que ele “nos representa”, pode não ser apenas uma questão de gosto. Alguns estudos indicam que nossas preferências olfativas estão correlacionadas com nosso próprio tipo de MHC. Em outras palavras, podemos estar amplificando nossa mensagem genética por meio das fragrâncias que preferimos usar.

Então… você acredita em amor ao primeiro olfato?

Da próxima vez que alguém lhe disser “achei delicioso o seu cheiro”, lembre-se: talvez não seja apenas o seu perfume. Talvez sua genética esteja falando por você. Porque às vezes, antes do primeiro beijo, seu nariz já se decidiu.

 

 

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